O desenvolvimento de Combustível Sustentável de Aviação, ou SAF (da sigla em inglês Sustainable Aviation Fuel), faz parte do esforço global de redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEE) e do enfrentamento das mudanças climáticas.
De acordo com um estudo liderado pela Manchester Metropolitan University, a aviação é responsável pela emissão de cerca de 3,5% do CO2 que vai para a atmosfera. Considerando a previsão de ampliação do mercado aéreo, essa taxa tende a aumentar em poucos anos se nada for feito.
A boa notícia é que algo está sendo feito, sim. Pesquisas de desenvolvimento do SAF e testes correm a passos largos. A utilização na aviação global ainda é tímida, mas está ganhando espaço.
Mesmo correspondendo a 0,1% do total usado na aviação, de acordo com a IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), a produção de SAF triplicou em 2022 quando comparada ao ano anterior e atingiu cerca de 300 milhões de litros.
Neste artigo, vamos entender mais sobre o assunto e conferir como a Raízen pretende contribuir com o desenvolvimento do mercado de SAF no Brasil e no mundo. Apertem os cintos, e boa leitura!
Qual combustível é usado em aviões atualmente?
O combustível mais usado por aviões no mundo todo é o querosene de aviação. Apesar de atender à demanda do presente, é importante olhar para o futuro e acelerar a transição para alternativas mais sustentáveis.
Isso porque o querosene é um combustível fóssil derivado de petróleo, portanto, não renovável, além de ser um recurso finito. A mudança para fontes renováveis e limpas ajudam na descarbonização da economia, medida essencial para o enfrentamento das mudanças climáticas.
O que é o SAF?
O Combustível Sustentável de Aviação também é chamado de biojet ou BioQAV (querosene verde). Produzido a partir de fontes renováveis, o SAF pode reduzir a emissão de CO2 entre 70% e 90%, em comparação com o querosene de aviação.
Além disso, o SAF é um combustível “drop in”, ou seja, pode substituir diretamente o jet fóssil. Essa característica faz com que ele possa ser usado nos modelos de aeronaves existentes sem modificações estruturais significativas, tornando sua implementação mais acessível e rápida.
O quão limpo, sustentável e viável ele será, depende dos insumos utilizados e processos adotados. E é isso que ainda está sendo avaliado nos estudos em andamento.
Como o combustível SAF é produzido?
Basicamente, o SAF é produzido por meio de processos químicos que convertem fontes renováveis ou resíduos em um combustível equivalente em função ao querosene de aviação convencional.
Porém, não existe uma receita definida para a produção de SAF. Atualmente existem 7 caminhos tecnológicos aprovados para sua produção e outros 5 estão em processo de homologação.
Uma coisa é certa: os combustíveis devem ser desenvolvidos seguindo rígidos critérios de sustentabilidade.
Matérias-primas do SAF
O SAF combustível pode ser produzido a partir de diferentes matérias-primas, como biomassa, óleo de cozinha usado, resíduos urbanos, gases residuais e resíduos agrícolas.
Outras formas de produzi-lo são a partir de eletricidade livre de fósseis e do próprio CO2 capturado da atmosfera.
Entre os caminhos possíveis, destacamos a utilização de muitas matérias-primas disponíveis no Brasil: plantas que contêm açúcares, resíduos agrícolas e óleos são potenciais matérias-primas para uso na aviação.
Com uma cadeia produtiva já consolidada e rastreável, cana-de-açúcar, soja e eucalipto também são candidatos naturais para iniciar uma indústria de SAF no Brasil.
Entenda o hidrogênio verde na composição
Um dos insumos mais importantes para a produção de do SAF é o hidrogênio. É ele que reage com o dióxido de carbono (CO2) gerando os hidrocarbonetos de cadeia longa semelhantes ao do querosene de aviação.
O hidrogênio também pode ser extraído de diferentes fontes, incluindo fontes fósseis (como o gás natural) ou renováveis (como o etanol). Assim, pode-se ter hidrogênio mais ou menos verde.
A produção de SAF a partir de etanol já reduz em cerca de 70-90% as emissões de gases de efeitos, porém para que a produção de SAF atinja ainda patamares menores de emissões, a adoção do hidrogênio verde pode ser uma alavanca de redução de emissões.
Os benefícios do combustível de aviação sustentável para as empresas
Ao reduzir a emissão de CO2 e de outros poluentes, como o enxofre, o uso do SAF colabora com a qualidade do ar e com a desaceleração do aquecimento global. Isso é fundamental para a preservação de espécies de vários ecossistemas.
Além disso, ao ser produzido a partir do aproveitamento de resíduos agrícolas e até mesmo de óleo de cozinha usado, ajuda na implementação da economia circular, reduzindo o desperdício e dando uma nova vida a resíduos que seriam descartados.
Além da redução do impacto ambiental, a adesão ao SAF também traz benefícios diretos para as companhias aéreas, como a menor dependência de fontes fósseis.
Primeiras experiências com SAF
A solução comercial para introduzir o SAF tem sido misturar essa opção sustentável ao querosene de aviação. A mistura pode ser feita em várias proporções, amortizando o custo e a eventual desconfiança.
A KLM, companhia aérea holandesa, adiciona 1% de SAF, feito de óleo de cozinha usado, no abastecimento de cada voo que sai do Aeroporto Schiphol de Amsterdã. A empresa divulgou que a meta é chegar a 10% de SAF até 2030.
Atualmente, as tecnologias aprovadas podem ser misturadas com até 50% de querosene de aviação. Mas já há pesquisas e testes para o mercado progredir e conseguir ter um combustível composto por 100% de SAF.
A Embraer realizou um teste bem sucedido com 100% de SAF com fonte de SPK de ésteres e ácidos graxos hidroprocessados (HEFA-SPK) nos Estados Unidos, em junho de 2022.
Como a Raízen pretende desenvolver o mercado de SAF no Brasil?
Como os maiores produtores de etanol de cana-de-açúcar no mundo, líderes da transição energética em vários setores e com rede de abastecimento já estruturada nos maiores aeroportos do Brasil, é natural a Raízen estar atenta ao mercado de SAF.
Em 2022, a Raízen assinou uma carta de intenções com uma fabricante de aeronaves para estimular o desenvolvimento de um ecossistema de produção de SAF. A parceria facilita a troca de conhecimento em tecnologia de ponta sobre o SAF entre as duas empresas, bem como com outros stakeholders.
Em agosto de 2023, a Raízen recebeu o selo ISCC Corsia Plus, que certifica que etanol de primeira geração produzido no parque de bioenergia Costa Pinto pode ser usado como insumo para a fabricação do SAF.
Saiba mais sobre os próximos passos desse mercado na reportagem da Folha de São Paulo
A Raízen é pioneira no mundo a obter essa certificação para o seu etanol de cana-de-açúcar, demonstrando seu compromisso com a sustentabilidade e liderando a transição energética em setores de difícil descarbonização.
Com o investimento no desenvolvimento de biocombustíveis avançados produzidos a partir do etanol de cana-de-açúcar, a Raízen se prepara para atender o potencial global de consumo de etanol para SAF.
Estima-se que a demanda global por SAF atinja aproximadamente 20 milhões de m³ em 2030: se 25% desta demanda for atendida pela tecnologia Alcohol-to-Jet (AtJ), haverá aproximadamente 9 milhões de m³ de demanda adicional de etanol, o que representa menos de 10% de produção global atualmente.
Assim como outras tecnologias inovadoras, o desenvolvimento desse novo biocombustível depende de mecanismos de apoio, regulamentação e de iniciativas privadas.
As metas são ambiciosas, mas estamos na rota certa.
Enquanto a aviação ainda dá os primeiros voos na transição dos combustíveis fósseis para renováveis, outros biocombustíveis já estão com o mercado bem mais desenvolvido. Biocombustíveis: conheça os principais e descubra suas vantagens.