A economia circular repensa os meios habituais de produção e de consumo. “E se os produtos de hoje se transformassem nos recursos de amanhã?” é um bom exemplo da ideia transmitida por esse sistema.
Os modelos econômicos atuais exploram insumos que são finitos. De acordo com a ONU, a população mundial tende a crescer em 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos. Será que a natureza suportará o lixo produzido por todo mundo? É pensando em solucionar problemas como esse que a economia circular existe.
Alguns exemplos de Economia Circular:
- Reciclagem e compostagem: Transformar resíduos em recursos, como reciclar plástico para produzir novos produtos ou compostar resíduos orgânicos para gerar fertilizantes.
- Sistemas de produto como serviço: Modelos de negócios que vendem o uso de um produto sem transferir a propriedade, incentivando a manutenção e a reutilização, como serviços de compartilhamento de carros ou aluguel de equipamentos.
- Reparo e recondicionamento: Estabelecimentos e serviços dedicados ao reparo de eletrônicos, roupas e outros bens de consumo para prolongar sua vida útil.
A transição para uma economia circular requer a colaboração entre governos, empresas e consumidores. Políticas públicas podem incentivar práticas circulares, enquanto as empresas podem inovar em seus modelos de negócios e processos de produção. Os consumidores, por sua vez, têm um papel crucial na escolha de produtos sustentáveis e na adoção de práticas que reduzam o desperdício.
Confira a seguir o que é a economia circular, quais são seus objetivos e vantagens, como levar a circularidade para negócios e outros aspectos desse conceito tão importante.
O que é economia circular: conceito e objetivos
A economia circular é um conceito estratégico em que os resíduos são insumos para a produção de novos produtos.
Ele propõe uma mudança nas cadeias de produção e busca conciliar o crescimento econômico, a sustentabilidade e o bem-estar da sociedade.
De modo geral, o conceito de economia circular envolve uma transformação na extração dos recursos, na forma com que os resíduos são eliminados e nas lógicas de consumo de forma geral.
Trata-se de um modelo que reconhece a importância de ter a economia sempre girando, porque considera o interesse de negócios e de indivíduos, das pequenas a grandes empresas, de atuação local ou global e, ao mesmo tempo, visa uma gestão consciente dos recursos naturais.
Ou seja, pensar a circularidade da economia é mais do que reduzir os impactos da economia linear, é uma transição para construir um sistema resiliente, inteligente e próspero.
Além de ser uma alternativa interessante para as cadeias de produção atuais, uma vez que a economia circular prevê um sistema mais sustentável, ela também é uma oportunidade para redefinir o futuro.
Por que a economia circular é importante?
Quando falamos sobre economia circular, é quase impossível não surgir uma dúvida clássica: afinal, qual é a importância desse sistema, se atualmente já temos um modelo econômico que funciona?
O formato atual, baseado na economia linear, gera graves impactos negativos ao meio ambiente.
Degradação ambiental, risco de esgotamento de recursos, possibilidade de contaminação dos bens oriundos da natureza e esterilidade dos ecossistemas são algumas dessas consequências.
Claro, não é sempre que todos esses problemas surgem. Mas, como um todo, o modelo atual implica na extração predatória de recursos e no descarte indevido de resíduos. Isso, pois esse formato, como o próprio nome já indica, não é cíclico.
Sendo assim, a produção segue uma lógica de mão única: os recursos são extraídos, manufaturados e transformados em produtos. Esses, por sua vez, são descartados depois de um tempo.
Na economia linear, não há benefício para o meio ambiente, já que, depois do fim da vida útil do que foi produzido com a matéria-prima, não há reciclagem ou qualquer tipo de reparação aos impactos causados.
Já na economia circular, há o foco em suprir esse desgaste ambiental causado pela produção linear, usando a própria produção para repor recursos e diminuir os impactos negativos.
Além disso, a economia circular é importante para as próprias empresas, visto que, com menos recursos naturais disponíveis, os custos para obtenção de matéria-prima se elevam.
Logo, gerar novos recursos se torna uma forma de manter funcionando os meios de produção.
Para completar, há também o conceito de ESG, diretamente ligado ao mundo dos investimentos, que incentiva as organizações a agirem de acordo com uma nova ética de mercado.
Economia circular: quais são suas principais características?
Até aqui, você já conseguiu entender que a economia circular é um modelo que une a sustentabilidade do meio ambiente com estratégias de negócios, certo?
Em resumo, as principais características da economia circular são:
- Minimização do impacto humano no meio ambiente, utilizando recursos naturais de forma racional
- O conceito é baseado na inteligência da natureza replicado em uma lógica de produção, consumo e reaproveitamento
- É um sistema holístico que demanda transformações contínuas. Não é puramente paliativo, e sim regenerativo
Anote esses pontos, pois eles sintetizam toda a ideia da circularidade. É importante saber também que, até chegarmos a um resumo do conceito, muitos estudiosos já investigaram o assunto.
Quando surgiu o conceito de economia circular?
Apesar de muito utilizado, a origem do termo economia circular não é certa. Não é possível atrelar o conceito a um único autor ou data.
Mas entende-se que, ao fim da década de 1970, as ideias e práticas alternativas para a economia e para os processos industriais se fortaleceram por meio de acadêmicos, líderes intelectuais e instituições.
Algumas escolas de pensamento importantes para o enraizamento do conceito de economia circular são:
- Design regenerativo
Teve início com o professor John T. Lyle, que aplicou o conceito de design regenerativo para além da agricultura. Esse pensamento propõe, por meio da aplicação de métodos e planejamentos, um sistema que gere a reparação da natureza.
A partir do momento em que o meio ambiente pode se recuperar dos impactos causados pelos seres humanos, estaríamos alcançando um estágio de reequilíbrio entre nós, nossos hábitos de consumo e os recursos naturais.
Foi um dos primeiros passos em direção à ideia de economia circular que existe atualmente.
- Cradle to Cradle – Do berço ao berço
Considera que todos os materiais usados na indústria e no comércio servem para nutrir os próprios processos, com foco no design para efetividade e para redução de impactos negativos. - Ecologia industrial
Um campo de estudos que visa a criação de processos de ciclo fechado, em que os resíduos servem como insumo, dispensando a noção de subprodutos indesejáveis. - Biomimética
Disciplina que tem a natureza como modelo, como medida e como mentora. Inspira-se nos ciclos vivos do meio ambiente para inovar. - Fundação Ellen MacArthur
Foi estabelecida em 2010 com a missão de acelerar a transição rumo a uma economia circular. Ela trabalha com empresas, governos e academia para construir uma economia que seja regenerativa e restaurativa desde o princípio.
A diferença entre economia linear e economia circular
O sistema de produção convencional não consegue mais dar suporte aos negócios, às pessoas e ao meio ambiente.
Nós extraímos recursos naturais para produzir artigos que usamos e que, quando não queremos mais, são descartados. Isso é o que chamamos de economia linear.
Como explicado anteriormente, o modelo linear prevê um começo, meio e fim para a produção. É algo direto. Os recursos naturais, limitados, são obtidos e utilizados por meios de produção para um serviço ou produto.
Depois do uso, esse produto é descartado. Como produzir mais? Voltando ao início: extraindo novos recursos e reiniciando o processo.
Nessa lógica, uma vez que chegamos ao fim da linha de produção, o único caminho é voltar ao começo. Ou seja, retomar o processo, sem devolver de maneira significativa os recursos naturais extraídos para a produção e sem descartar corretamente os produtos anteriores que se tornaram obsoletos.
A economia circular é a evolução do modelo econômico, adaptado aos novos tempos. Ou seja: um modelo de geração contínua de bens, com design ecoeficiente e de menor impacto, mais duráveis e responsáveis. Uma nova maneira de encarar a origem, a transformação e o destino dos produtos.
Isso funciona por meio da visão da produção como algo circular e contínuo: não há um fim definido, e, com o tempo, o que é descartado pode ser ressignificado como matéria-prima para uma nova produção.
Assim, na economia circular, os produtos e seus componentes são projetados para desmontagem, reúso, reciclagem, compostagem, com a possibilidade de reaproveitamento e reinserção na economia e na regeneração de sistemas.
Economia linear
Economia circular
Quais são as etapas da economia circular?
As etapas da economia circular envolvem:
- A extração inteligente de insumos, a fabricação da matéria-prima e o design do produto. Nessa fase, todas as decisões já são tomadas levando o resto da cadeia produtiva em consideração.
- Os bens vão ao comércio e são consumidos pelas pessoas. Aqui, a empresa já deve ter em mente como será o processo de remanufatura e reutilização daquilo que for descartado.
- Destinação, coleta e reciclagem. É quando o foco se concentra no descarte adequado do resíduo e o ciclo se reinicia.
Na teoria, as fases da economia circular parecem simples. Contudo, as etapas de implementação da economia circular é que estão por trás da circularidade na prática. Elas envolvem:
- Educação ambiental: empresas e consumidores precisam estar a par dos princípios da economia circular para participarem do modelo de forma efetiva.
- Criação de processos sustentáveis: o ciclo de um produto é feito de etapas menores. Cada uma delas deve ter um design sustentável, como por exemplo a extração, a logística, o marketing, a coleta dos insumos etc.
- Continuidade do modelo: a economia circular é um sistema pensado para funcionar a longo prazo e, para funcionar, deve se apoiar em premissas mais básicas, como a coleta seletiva, por exemplo.
Afinal, como a economia circular será próspera, se a mentalidade sustentável não fizer parte do mercado como um dos pilares principais?
É por isso que os negócios já estão firmando hoje, um compromisso com o futuro, visando a resiliência empresarial e o desenvolvimento de uma economia robusta e sustentável.
Os três princípios da economia circular: como ela se apoia na circularidade de processos, produtos e negócios
Depois de entender as principais diferenças entre a economia linear e a economia circular, vamos destacar como esta última pode estimular as empresas na adoção da circularidade nos seus negócios, ou seja, na adesão dos princípios da economia circular nos seus processos e produtos orientados por três eixos:
- Eliminar resíduos e poluição desde o princípio
- Manter produtos e materiais em uso, em seu mais alto valor
- Regenerar sistemas naturais
Para que isso possa acontecer, é preciso ter diretrizes. Afinal, a economia circular vai muito além das noções de Reduzir, Reciclar e Reutilizar.
São poucos preceitos, mas que trazem vantagens quantitativas e qualitativas para todos os envolvidos na circularidade.
Em resumo: o coletivo de empresas, cidades e demais stakeholders que aplicam o sistema de circularidade que observamos acima, formarão o que a gente entende como sistema economia circular.
Vantagens e desafios da economia circular
A economia circular elimina desperdícios. Nela, os insumos são utilizados com a maior eficiência possível, o que gera menor dependência e exploração dos recursos naturais.
Em termos corporativos, ao extrair menos matéria-prima, e considerando que ela será reaproveitada, a economia circular apresenta uma forma de redução de custos para as empresas.
Isso sem falar no engajamento com os colaboradores, porque estimula o senso de pertencer a uma empresa engajada na redução de seus impactos negativos socioambientais e na evolução de comportamento dos seus stakeholders.
Contudo, talvez o maior desafio da economia circular seja sua implementação em grande escala e de forma perene.
Para que ela aconteça efetivamente, é preciso que todo um sistema seja reformulado e muitas empresas e consumidores firmem o compromisso coletivo frente a novos modelos de negócio.
Ou seja, por mais que a economia circular seja uma grande solução, algumas limitações de infraestrutura e de pensamento são barreiras a serem enfrentadas.
Os players precisam entender que devem atuar juntos, para assim garantirem o sucesso do sistema.
O que é circularidade no negócio e qual é sua relação com a economia circular?
No mundo dos negócios, o termo circularidade se refere a quando empresas adotam os princípios da economia circular nos seus processos, produtos e negócios, viabilizando, entre outros:
- Eliminação de resíduos;
- Manutenção da vida útil de produtos.
Na prática, para que a economia circular cresça mundialmente, é necessário que as circularidades das empresas aumentem e ganhem força.
É preciso continuar investindo em práticas sustentáveis dentro das empresas como forma de incentivar o restante do mercado.
A economia circular é um sistema que acolhe diferentes circularidades, portanto, ambos os processos são interdependentes. O sistema circular só funciona graças às práticas de circularidade, e vice-versa.
Como levar a circularidade para seus processos e negócios na prática?
Para aplicar a economia circular em seu negócio, independentemente do seu porte, é preciso levar em conta algumas questões.
Ao avaliar todos os processos da produção, da obtenção de recursos ao descarte, é possível encontrar alternativas mais sustentáveis e que façam a diferença.
Pense: o que pode mudar? Como gerar impactos mais positivos para o meio ambiente? Dentro do seu negócio, reveja por exemplo:
- A captação de recursos naturais: como depender menos (ou regenerar) as fontes naturais?
- O uso de matéria-prima: como escolher melhores MPs?
- A manufatura: como conceber e produzir com maior ecoeficiência?
- O processo de distribuição: como distribuir com menos impacto?
- Uso e consumo: como prolongar o uso?
- A reciclagem (reúso, reparo, redistribuição e remanufatura): como reinserir o produto no ciclo?
- E, por fim, o descarte: como reduzir ao máximo a geração de descarte?
Economia circular exemplos: conheça empresas no Brasil que já adotam essa ideia
Segundo uma pesquisa feita em 2019 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 76,5% das empresas no setor da indústria estão engajadas no sistema da economia circular.
Entre as principais práticas estão a otimização de processos, o uso de insumos circulares e a recuperação de recursos.
Que tal se inspirar com algumas dessas empresas?
Natura
O grupo Natura &Co se comprometeu em garantir a circularidade de suas embalagens até 2030.
Ele também pretende usar 95% de ingredientes naturais ou renováveis e 95% de fórmulas biodegradáveis em todas as quatro marcas do grupo (Natura, Avon, The Body Shop e Aesop).
Além disso, o grupo busca desenvolver mais soluções para um comércio justo, para a gestão de resíduos em plástico e um sistema de extração regenerativa.
Patagônia
Uma marca que dissemina uma filosofia ambiental para estimular o consumo consciente. Pratica a reutilização contínua de seus insumos e materiais, mantendo-os dentro da cadeia produtiva e anulando o descarte e desperdício.
Interface
Com a missão de reverter o aquecimento global, a empresa desenvolveu o Climate Take Back Plan, uma estratégia guiada pela descarbonização total.
“Viver o zero todos os dias e reduzir os impactos do nosso negócio e das nossas operações no planeta” é o que a empresa acredita e faz em nome da economia circular.
Raízen
Explorar todas as possibilidades da cana-de- açúcar é uma das nossas estratégias para seguirmos investindo em produtos renováveis.
Veja como realizarmos a circularidade dos nossos processos, produtos e negócios no vídeo abaixo:
Como você pode perceber, é por meio da circularização que nós aproveitamos todos os resíduos e insumos utilizados em nossos processos para a geração de novas formas de energia:
- O bagaço da cana é usado para geração de bioeletricidade, o que garante a autossuficiência energética em nossos parques de bioenergia.
- O bagaço também é usado para produzir o etanol de 2ª geração, o E2G, um exemplo inovador de bioeconomia e sustentabilidade aplicada.
- Pellets são produzidos a partir de biomassa, com menor pegada de carbono que seus substitutos convencionais (carvão), além de ser 100% renovável.
- Cinza, torta de filtro e vinhaça são usados como fertilizantes naturais, isto é, reduzem o uso de fertilizantes sintéticos e voltam para a terra, fechando um círculo nutritivo.
- A torta de filtro e a vinhaça são usadas para produzir o biogás, mais uma energia renovável.
Assim, contribuímos diretamente com o meio ambiente, gerando menos resíduos industriais e criando produtos sustentáveis que ajudam a limpar a matriz energética brasileira.
Clique aqui para conferir como contribuímos com a circularidade no setor sucroenergético e aqui para ver nosso relatório anual da safra 2020/2021 aqui.